sábado, 26 de março de 2016

Lucy

"Now that it's over
Just wanna hold her
I'd give up all the world to see 
The little piece of heaven
Looking back at me" (Skillet - Lucy)



Como sábado se tornou desta forma? As paredes não tem uma cor específica, e elas se perdem em palavras que eu não consigo entender. Está um pouco escuro aqui, e meus olhos já não podem iluminar o caminho. Já não consigo mesmo acompanhar meus próprios passos, aparentemente meu passado é mais rápido que eu. Minha cabeça está igual a uma bomba, prestes a explodir, com planos e ideias que eu não sei como passar para o papel. Eu queria tanta coisa, alcançar tantos anjos, mas nenhum deles consegue me ouvir agora. E pensar que eu até me apaixonei por um.


Venho me perdendo ao me lembrar das coisas, por onde andamos, por onde passamos, por onde pensamos. Será que você pode ler esta carta que estou escrevendo? Consegue lembrar? Inimigos fortes que enfrentamos, armadilhas e florestas que caminhamos. Demorou um pouco pra gente se entender não é mesmo? O que se poderia esperar de um zumbi enfaixado que utiliza correntes e caminha pela escuridão? E eu era apenas uma criança em busca de vingança, fixado nessa ideia de que tudo iria se resolver atrás dela. Belo engano.


Mas eu nunca te disse não é mesmo? Eu não disse o quanto eu te procurei, e nossa, demorou muito até eu te achar. E quando eu te encontrei, foi como se meu coração batesse de novo, mesmo sabendo que ele estava tão podre que eu acho que ele nem sabia o que era isso mais. Poder te abraçar depois de tanto tempo, nossa, fazia dez anos, onze, nem lembro mais. Eu não tive mais noção de tempo depois de eu perder meus passos, e eu só sabia que o que importava eram seus olhos que não mudaram desde quando a gente era criança.


E quando você começou a andar junto com a gente, minha nossa, eu percebi que eu tinha pedaços de diamantes amarrados às minhas mãos. Diamantes, ouro, não importa qual pedra preciosa você queira designar, o fato não é a pedra, e sim o fato de que vocês eram preciosos pra mim. Era a sensação antiga de família que eu não lembrava como era. Mesmo que a palavra "confiança" ainda estava conturbada, não era ela que nos fazia parar de caminhar juntos e também rir juntos perante a lua daquele inverno.


Você limpava minhas ataduras, lembra? Seu olhar de envergonhada, e meus olhos que diziam pra eu te falar que eu tinha medo de mostrar essas ataduras, você não merecia ver tal coisa desprezível. Mas, como eu poderia te dizer "não"? Eu não tinha defesa alguma contra você, e eu me perdia só de ouvir sua voz. Mas eu era muito covarde pra te dar um beijo. Muito covarde pra te pedir um. Eu só precisava de uma hora do teu lado pra apagar toda aquela bobagem de vingança, solidão e dor. Você era minha preciosa anja.


Quando vi você com aquela casa e aquelas crianças, eu ri. Eu ri não de achar aquilo uma piada, mas sim de ver o seu lado gentil ser completamente mostrado a todos, e como você ficava fofa daquela forma. Eu via você prender o seu cabelo, eu vi você sorrir, e eu queria mesmo que o tempo parasse por alguns segundos só pra eu ter aquele momento só pra mim. E só de saber o fato de você sentir o mesmo por mim, já me fez o monstro mais feliz do mundo. Não sou um homem, não sou mais o garotinho que você conheceu há 10 anos atrás. Mas eu sinto o mesmo que ele sentia.


Lucy, fico me perguntando se você ainda está por aí. Eu lembro de tudo, eu lembro até mesmo do tom da sua voz, e não se preocupe, eu não vou te soltar, nunca mais, nunca mais! Eu sei que em algum lugar você consegue ver a mesma lua que eu neste momento, e sei que também consegue ver as estrelas ao redor. Adoraria que alguma delas fosse uma cadente, pra eu pegar uma viagem e chegar mais perto de você. Eu só preciso do seu sorriso, apenas mais uma vez. Eu preciso de um último beijo, apenas mais uma vez. Eu não tive tempo de te dizer adeus. Nem eu te amo.

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