quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Envelhecer

"O melhor já foi
Mas o melhor está por vir
E os dias ruins
Também não foram tão ruins assim" (CPM 22 - Ano Que Vem Talvez)




Ah, minhas entranhas tem estado tão estranhas. Minha garganta ferve, como eu tivesse um compartimento de ácido e queimando tudo que tenho. A pressão aumenta, como se eu estivesse sozinho contra uma gigantesca tsunami. Eu estou com meus pulsos derramando sangue, as correntes amarradas em minha mão significam que a luta está longe de acabar. Matei e morri por muitas pessoas, atirei e ao mesmo tempo levei o tiro por me arrepender de coisas que aconteceram durante este meio segundo. Mesmo eu estando ciente de tudo isso, levantei de novo.


Mesmo eu estando parado sozinho aqui perante essa gigantesca nuvem de fumaça. Talvez eu esteja enlouquecendo, mas o que seria enlouquecer além de viver todo dia? Eu sei que pareço um doente mental cada vez mais, mas eu mal envelheço e quando envelheço, eu acabo colhendo coisas que eu sei que não deveria colher. Ah, quero mais é que se foda, o cansaço é grande, a dor, exorbitante, mas ainda não é o bastante. Eu não sei, uma parte de mim ainda clama pelo meu lado guerreiro, como se eu fosse um espadachim prestes a morrer de modo honrado.


Talvez eu esteja só envelhecendo mais rápido do que eu deveria. Eu queria lutar por algo, ter algo pra proteger, ter algo pra levar pancadas, mas não. Eu não tenho nada pra fazer, nada para mudar, o mundo não vai acontecer nada de diferente se eu faço tal coisa ou não. Saber disso me frustra, como se eu realmente quisesse valer alguma coisa. Sou só pedaço de solidão procurando um pedaço de vidro pra me rasgar ao meio. Eu não vou me acostumar com tudo isso, com todo esse caos, eu pensei que podia fazer algo sobre isso! Mas não, estou amarrado, olhando tudo e todos se ferirem, e eu aqui, com dores explodindo nas minhas veias. Eu preciso de ajuda.


Como recomeçar sendo que meus olhos se perdem em lágrimas procurando um novo motivo pra sorrir? Como caminhar senão olhando para o chão e rezando para que não encontre mais uma maldita pedra? Merda, eu achava que um dia eu cresceria de maneira igualada, não me tornando uma piada, como estou atualmente. Por que esperam tanto de mim? Por que acham que eu deveria saber as coisas, por que eu deveria ser um exemplo? Eu estou tão fodido quanto todo mundo. Odeio ser pressionado, e também expectativas. Eu vou acabar decepcionando todo mundo.


E não importa quantas pessoas falem comigo, não importa quantas experiências eles passaram, nunca vão me entender por completo. Nem mesmo eu me entendo, apesar de todos os meus esforços. Não existo e existo, vivo e não vivo, amo e não amo, gosto e não gosto, mas tudo ao mesmo tempo. Por que logo eu, tenho que ter essas ideias? Eu queria ser um cara normal, aqueles caras inúteis que se vê na tv, com suas carinhas bonitinhas e nada a acrescentar, sem pensar ao seu redor. Por que eu penso tanto coisa inútil e quando preciso pensar algo diferente não penso em nada? A tortura é aqui dentro da minha cabeça.


E eu me acabo com um veneno que corrói todas as minhas veias que pessoas comuns chamam de sangue. Meu olhar seco e vazio constrói uma caixa feita de papel com todas as minhas lágrimas, e de repente tudo derrete, como se fosse apenas gelo esperando uma brecha para desaparecer. É, talvez eu seja apenas um gelo, que mais alguns feixes de luz, acabarei desaparecendo, como um nada sem avisar. Alguém pode me contar algumas histórias antes de eu partir? É que eu quero pelo menos ter algumas coisas para lembrar, não ser esse pedaço de lixo que eu costumo carregar. Eu realmente tenho enlouquecido, e tem tantos lugares despedaçados pra conhecer. Não tenho justificativas.


As pessoas evoluem à medida que passa o tempo. E eu, apenas tenho uns fios de cabelos a mais e uma barba que me envelhece. Eu já envelheci faz tempo, estou fora do meu tempo. Eu já morri e observo distante as coisas que acontecem ao meu redor. Sou um psicopata com sentimentos, que procura se sentir vivo durante todo esse tempo. Desaprendi a respirar, sou um mero pedaço de papel tentando voar, mas não posso, sem o vento me levar.  A chuva realmente parece quente nessa época, apesar de todo inverno passar sob minha janela. Ah, eu me lembro de uns traços dela, confesso, mas nada que ocupe todo meu tempo. Eu estou me tornando um monstro sem sentimentos, um mero pedaço de carne sonhando em ser algo mais. Não serei algo interessante.


Eu contorno minha vida com certos pontos aleatórios. Esses pontos, um dia eu jurei nunca deixá-los, eu jurei guardá-los com todas as minhas forças, eu os faria ser a coisa mais importante. Hoje, são só pontinhos pequenos neste pedaço gigantesco de papel que eu chamo de minha vida. Eu não sei mais quem eu sou, eu realmente estou muito mais que indefinido. Me sinto fraco, me sinto forte, eu realmente precisaria muito de um suporte agora. Não há. Eu sempre estou sozinho, sempre tenho que fazer por mim mesmo, sou um cadáver sendo sepultado com o relento. Não farei do meu sonho algo pra se moldurar num quadro, ou pendurar no meu quarto, o farei como tapete do chão mais sujo. Sou marcado para sentir dor. Fui convidado para ver minha vida sangrar. E eu aceitei. Alguém me prenda.

1 comentários:

Marcello disse...

O seu texto eh bem expressivo. Conseguiu passar muito bem o que sentia ( acho).
Milhões de pessoas estão na mesma situação de inutilidade.
O jeito eh começar a pensar se a vida acaba mesmo com a morte,ou se este seu inferno particular vai perpertuar-se.
Penso que vai ficar nesta ainda por muito tempo...

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