quinta-feira, 13 de março de 2014

Tecido

"In the blink of an eye
We're all gonna die
So why are we waiting for tomorrow?
Why are we drowning with our sorrows?" (M. Craft - Emily Snow)



Até que tem estado calmo esse frio imprevisível do verão. Minhas mãos tem suado o tempo todo, as luzes se enquadram num quadro que eu costumo admirar quando dá tempo. Acredite, tenho estado mais ocupado nesse ano, tenho novos estudos, novos amigos, novas histórias pra contar, novas palavras pra usar (que nada mais são do que as mesmas palavras que eu usava, só que mais bonitas), e as canções que ouço não são as mesmas desde então. Ano passado eu senti uma transição do meu ego, e eu me lembro de ter sido turista no céu e no inferno. E hoje estou aqui, no meu purgatório, talvez mais feliz do que devia, mas está tudo bem.


Fora o fato do clima estar tão estranho quanto eu, nada muito fora do normal. Confesso sentir falta da cidade, confesso sentir saudade de meu pai indo me acordar pra ir pro colégio que é bem perto da minha casa, sinto falta de ter que chamar meu melhor amigo pra ir pro colégio e nos dias de chuva ele não ia por ser preguiçoso. Merda, parece que todo esse tempo tenho atirado minhas horas pela janela, e ainda não achei um nome pro termo "ela" e as canções que escrevo vão pra algum buraco negro. Maldição, talvez eu tenha ficado fora de si por muito tempo.


A vida psicodélica me fascina, o fato de você ver tudo e ao mesmo tempo ser cego, isso é incrível. Sinto as veias saltando, sinto a minha cabeça se perdendo em alguns horizontes, não faz mal, encontro ela algum dia no meio da rua lamentando o fato de estar só. Talvez eu consiga me definir como mero problema de matemática, que talvez seja não solucionável, e as incógnitas que eu tenho nem mesmo meu ego pode dizer, alguém me descubra por favor, tem estado muito calor aqui. Amor, eu te perdoo por não existir, mas não faz isso de novo.


O que é amor? A ciência tenta definir com alguns termos esquisitos e que me deixa nauseado. Eu acredito no simples, que atitudes simplesmente são coisas instintivas que não se pode definir com palavras e bibliografias difíceis. Mas mesmo assim,  não é como se eu pudesse dizer alguma coisa, sou uma bagunça. Silencie o silêncio, deixe que as coisas fiquem como estão, para não machucar gente que não tem feridas. São as regras dos egoístas, talvez realmente não faça sentido este texto, mas para mim faz. E muito. Pode checar se você ainda existe no mundo?


Respiro fundo, deixo que as lembranças invadam minha noite esquisita, apesar de ser manhã. Está certo eu costurar minhas feridas com cascas de feridas dos outros? Provavelmente não. Deixe que a ferida fique aberta à carne viva, viva a dor, viva a lágrima, viva enquanto vive morrendo, viva até não poder mais respirar. Consegue ver a luz do poste aterrissando numa mariposa iluminando sua dor? Todos nós sabemos que você tem se machucado, mas não é como se a gente se importasse. Todos tem seus problemas, todos são egoístas, estamos conseguindo derrubar o último desafio das trevas, de sermos  desumanos.


Claramente me sinto chocado, mas já me encontro em frente de informações inúteis e volto a ser o zumbi ambulante que era. Fico questionando existências, apesar de não saber nem o sentido da minha, fico procurando problemas nos outros pra não encontrar os meus. Não somos pessoas que dão soluções, somos os que dão os problemas, somos o problema. Ah cara, eu não devia ficar enlouquecendo com tão pouca idade, desse jeito terminarei ou no manicômio ou algum lugar estranho desta cidade. Movimento os dedos, estão acostumados a apertar os botões para que formem palavras.


Tem comida estragada na geladeira do mundo, e somos 7 bilhões de universos contidos em apenas uma esfera cheia de água. O que diabos estamos fazendo, eu questiono, reclamo, grito, num quarto escuro com uma bolha gigante de silêncio, vivendo com o sabor horrível da solidão. Atravesso os corredores, encontro dois bêbados brigando por uma garrafa de bebida, reflito, "os países não são praticamente iguais à esses bêbados ferrados? A diferença que ao invés de bebida é dinheiro". Estou meio que entorpecido num vórtex infestado de sentimentos, pessoas e lembranças.


Vou até o centro, vejo as pessoas passeando pelas lojas, procurando coisas inúteis para gastar o precioso dinheiro após um árduo dia de trabalho. Ah, já nem sei mais o que passa pela minha cabeça, encho de questionamentos, depois não sei responde-los. Me faz lembrar dos meus amores antigos, sentimentos que eu acho que deixei pra lavar e bem no fim diminuiu de tamanho, como se fosse algum tipo de roupa. Sou apenas tecido de uma pele que eu deixei de usar. Sou um casco, sei lá aonde vou terminar.

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